Foram elas, elas que me trouxeram.
Me pregaram a peça de ter que te ver mais uma vez.
Sabe, tive medo.
Medo do buraco, do degrau. Medo de não dar tempo.
Queria vir sim, pra dizer adeus.
Pra dizer que sinto muito.
Dizer que não queria ter vindo.
Mas essas rodas, elas rodam.
Giram pelo chão se julgando donas de mim.
Assim como o mundo gira se julgando dono do tempo.
Espero que haja tempo de te pedir perdão.
Talvez o tapa tenha doido muito.
Talvez meu copo dágua tenha derramado mais uma vez.
Essa noite ao tentar pegar o controle remoto cai no chão.
As rodas continuaram girando.
Parecia que riam de mim.
Foda-se disse a elas.
Decidi dormir ali mesmo.
Estava cansada pra me reerguer.
Peço desculpas pelos pés descalços.
Mas é que agora os sapatos não se fazem necessários.
Sinto pelas marcas que lhe deixei.
Sinto por ter dirigido a vida até esse momento.
A cicatriz em seu rosto foi o que restou em você.
Em mim ainda há muito mais, mas não consigo acha-las sobre essas rodas.
Naquela noite a nossa história foi a única que parou quando o sinal fechou.
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