Semiótica #1

Logo no começo do semestre o professor nos desafiou a analisar o filme "Lisbela e o Prisioneiro"...



Lisbela e o Prisioneiro


Lisbela é moça doce, mora com o pai lá para os lados do Nordeste deste país. Vive uma vida pacata, noiva de um homem deslumbrado pelo Rio de Janeiro, Douglas, que só fala imitando o sotaque carioca e está sempre mencionando as vantagens da cidade maravilhosa, talvez uma menção ao sonho nordestino que no Sudeste a vida é mais fácil, mais rica.
Moça apaixonada por cinema, um cinema que remete aos primeiro que existiram, filmes em preto e branco, em partes, cada sessão um pedacinho da história. Os trechos de filmes apresentados são alusões a clássicos como, por exemplo, “O médico e o monstro”. Essas histórias fazem mais parte da vida dela que a sua própria vida, tanto que quando ela encontra Leléu descobre nele o verdadeiro amor em uma cena exatamente igual aos filmes que assiste, a edição faz uma intercalação de cenas. Este dialogo acontece mais diretamente na cena em que Leléu procura Lisbela para se despedir ( mas isso eu conto mais tarde)
Leléu aparece na vida de Lisbela em uma de suas fantásticas paradas, ele vive de enganar o povo, cada parada um novo nome, uma nova profissão. Em uma delas ele é um vendedor de um elixir para impotência sexual. Após vender todas as mercadorias suas freguesas o procuram insatisfeitas, Leléu que é um mulherengo, se aproveita da situação e faz o que os maridos não fizeram. Entre todas está dona Prazeres que lhe faz duas visitas, e só a menciono na trama para chamar a atenção para o cuidado na escolha do nome da personagem, usado para dar um maior enfoque ao contexto.
Uma nova parada e Leléu é um artista de teatro, recruta a cidade para encenar a Paixão de Cristo, cobrando pela participação. Nesta cidade conhece Inaura, mulher carnuda (como dizem na região), já não havia mais personagens, mas ele toma de outra a roupa de Madalena e entrega para Inaura. Leléu faz o papel de Cristo, e então paramos calmamente e analisemos o fato. Leléu e Inaura encenam ao publico a história tal qual conhecemos, porém sussurram um dialogo paralelo remetendo a história que suspeita-se ter acontecido.
Ao fim da peça Leléu vai a casa de Inaura, que lhe conta sobre o marido Frederico Evandro, assassino de aluguel. Cultura também bem nordestina. Frederico Evandro volta mais cedo de uma de suas viagens de trabalho e apesar das tentativas de se esconder, Leléu é flagrado, porém ainda usava os trajes do teatro e o marido traído sai a caça de Patrick Mendel.
É nessa fulga que Leléu chega a cidade de Lisbela, que o encontra no show de horrores, onde ele apresenta a transformação de uma mulher, Monga, em macaco. É nessa parte que acontece a edição que mencionei antes onde intercalam cenas de Lisbela com Leléu vestido de macaco e cenas de “O médico e o monstro”.
Enquanto Leléu andava pela cidade um touro foge para a rua e assusta todos os transeuntes, o touro corre em direção de Frederico Evandro, e só nós sabemos disso. Léleu vê aquele homem em perigo e se atira diante dele derrubando o “touro a unha”. O homem, Frederico Evandro, em sinal de gratidão lhe oferece seus serviços gratuitamente quando ele precisasse.
Lisbela apaixonada larga o noivo Douglas para ficar com Leléu, porém Inaura chega a cidade para ficar com ele e o adverte de que Frederico Evandro está na cidade para matá-lo. Léleu para defender a mulher amada, Lisbela, decide fugir com Inaura, mas antes vai ao cinema encontrar Lisbela e se despedir, neste momento Lisbela antecipa as ações de Leléu baseada em sua cultura cinematográfica. Inaura chega e leva Leléu.
Lisbela caminha para casa quando encontra Douglas, que prepotente como só ele, faz chacota do sofrimento de Lisbela, e confessa com ar de superioridade e com a naturalidade de quem fez a coisa certa, que mandou matar Leléu. Lisbela vai ao encontro de Leléu para adverti-lo, mas só encontra Inaura, pois Leléu havia saído para pedir ajuda a um amigo que lhe devia um favor. Lisbela conta a Inaura que o homem era Frederico Evandro.
Numa cena típica de filmes de velho oeste, Leléu e Frederico Evandro se encontram. Porém, antes que Frederico atirasse chega Lisbela e o seu pai, que é delegado da cidade, que a pedido dela prende Leléu. Ela acredita que na cadeia ele estará seguro.
Chega o dia do casamento e Lisbela nada feliz se apronta para a cerimônia, Douglas armara uma forma da delegacia ficar vazia e permitir a entrada de Frederico Evandro para matar Leléu durante a cerimônia. Mas Leléu também armara uma história “muito da boa” para conseguir que o Cabo Totonho abrisse a cela, permitindo sua fulga.
Leléu vestido de padre entra na igreja e como forjando um canto gregoriano pede que Lisbela o encontre fora da igreja. Ela finge desmaiar. Leléu é pego. Lisbela recusa-se casar, descobrindo o real sentido de sua vida, deixando de ser a telespectadora para ser protagonista de sua própria historia.
Nesta confusão todos vão para a delegacia, onde encontram Frederico Evandro. Lisbela se põe na frente de Leléu, seu pai a tira de lá, Frederico Evandro leva Leléu ao pátio da delegacia aponta a arma para ele. Um disparo. Um momento em suspense. Inaura atirou em seu marido para defender a vida de Leléu. O amor das duas por Leléu neste momento se equipara, mas ele fica com Lisbela. Inaura assume a profissão de Frederico Evandro.
Na última cena Lisbela e Leléu conversam com a platéia do cinema. Alertando que em algum lugar, algum casal feliz, acredita no amor. Acreditam que o cinema imita a arte, logo, os contos felizes podem também ser reais.


1 comentários:

Batatais Cultural disse...

Filme adorável esse... sua trama, seus personages, suas falas. Tudo nele me deixa uma esperança de quanto o cinema no Brasil - já é - pode ser produtivo de modo qualitativo. Acho que a análise semiótica desse enredo foi o trabalho que mais rendeu dessa disciplina, não acha? rs. Desculpe ter sumido do blog. Tô voltando... Beijos Sheilinha... saudades...